Janela 100% Indiscreta

Após quase um ano e 1/2 morando no meu próprio apê é que comecei a ter uma melhor percepção da rotina ao meu redor: agora conheço os 3 porteiros pelo nome; já sei o horário em que as moças da limpeza passam no meu andar para retirarem o lixo; qual o tambor que devo depositar material reciclável; que às 23h o segurança tranca a porta de vidro do prédio....Nunca havia feito essa co-relação, comparando um condomínio à um organismo vivo, que por sua vez é composto de centenas de células, cada uma com um ciclo de vida independente, que neste caso seriam os apartamentos.

O condomínio é formado por 2 prédios de 21 andares cada, postados paralelamente...um na frente do outro. O meu é o que fica atrás, o bloco B. Três de minhas janelas dão de frente para o bloco A, e é exatamente a partir da visão da varandinha da sala que compartilharei as minhas observações.

Vizinho Lixo
Todo final de noite, saio na sacada da sala para fumar um cigarrete básico, e é lá que as coisas acontecem. Já de cara posso notar a presença do 'vizinho lixo'. Esse é aquele vizinho que você só ouve, porque ele mora no andar acima do seu. Nesse caso específico, ele também é percebido pelo cheiro, pela sonoridade e pelos resíduos. Explico: nunca os encontrei pessoalmente, mas deve ser um casal jovem, juntos há menos de 5 anos e que possui um bebê bem novinho. Vira e mexe, principalmente nos fins de semana, rola um som bem do alto, aquele estilo estoura tímpano, que invade meu ambiente tanto pelas janelas qto pelo vão da lareira. Além disso, já ouvi brigas, conversas ao celular, risadas histéricas, choro, e por aí vai. Qto ao cheiro...bem, nas noites quentes, deixo a janela do escritório aberta para entrar um ventinho, que de vez em outra vem acompanhado de um aroma herbácio familiar, idêntico ao detectado em shows de rock, baladas alternativas, raves e afins. E, finalmente, os resíduos...sim, os malditos resíduos do 'vizinho lixo' que sempre aterrizam na minha varanda. Incrível como a pontaria dele é boa! É bituca de cigarro, papelzinho de bala, palito de dente, plastiquinho de nem sei o que, até mesmo cusparada seca já encontrei por lá. Enfim, vocês devem estar pensando que eu enlouqueço com ele né? Mas nem. Tenho é pena, porque esse tipo de coisa é de berço, sabe?! Ou você nasce com ou nunca vai ter.

Vizinho Tédio
3 apartamentos do Bloco A parecem implorar para que eu faça parte da intimidade deles. Sim, porque cortina que é bom, necas. No #84 mora um moço que não deve ter mais de 30 anos. Ele é sozinho e mudou-se há alguns meses. O apartamento tem pouquíssima mobília. Sai antes das 8h da manhã e só volta lá pelas 22h30. Quando chega, acende a luz e verifica se tem recado na secretária eletrônica. Depois, liga a TV, senta no sofá e fica por lá até umas 23h30. Desliga tudo, vai pro banheiro e depois pro quarto. Todo o dia ele faz tudo sempre igual. Sábado passado eu o vi à tarde, tirando medidas da janela da sala. Acho que, finalmente vai comprar uma cortina..hahahaha. Ah! Agora ele tem um gato preto e branco. Lindinho. Espero que ele não deposite todas as suas expectivas de uma vida mais excitante no pobre do bichano.

Las Dykes
Bem ao lado do moço do 84, moram 2 mulheres. A princípio, me pareciam apenas 2 amigas morando juntas para dividir as despesas de moradia. Mas a janela acabou revelando que esse relacionamento era mais do que uma simples amizade. A moça morena de cabelo curto, deve ser o homem da relação. Seu visual e os trajes, sempre mais esportivos, é bem masculino. A moça com cabelo ruivo tingido cujo cumprimento vai até os ombros, deve ser a mulher. Uma noite dessas, as 2 estava no sofá, a ruiva sentada e a morena deitada no colo dela. Dava para perceber que rolavam uma troca eventual de carinhos. De repente, elas começaram a se beijar. Olho para o lado, no #84, e vejo o moço assistindo a sua boa e velha TV. Esse, não tinha a mínima noção do que estava acontecendo há poucos metros dali.

A Grande Família
Logo abaixo do vizinho do #84, mudou-se uma família de aproximadamente 6 pessoas (difícil imaginar 6 pessoas morando num apê de 2 quartos apenas...enfim). Pela pouca e modesta mobília, deve ser uma família de origem humilde. Após à 1/2 noite, pode-se notar a movimentação para se transformar a sala em um quarto extra. Vira e mexe a menina do #74 fica andando pra lá e pra cá bem à vontade. Outro dia, ela estava de costas para a janela da sala, usando solamente uma calcinha. Seria algo que não me afetaria tanto, não fosse pelo seu mega traseiro deformado pela maldição da celulite. Total visão do inferno, ou como dizia Julio Daniel, 'Sô obrigada!'

Sexta-feira passada, no apê das 2 amigas, estava rolando uma festinha, onde os moços eram moças e as moças, moços. Tinha de tudo, menos heterossexual. Não tenho nada contra o homossexualismo. Muito pelo contratário: tenho vários amigos gays e sempre os acompanho nas baladas gls, sem preconceito algum. É que realmente me chama a atenção toda essa diversidade humana que posso observar apenas da varanda de minha sala. Muito louco isso, não?

Bem, por enquanto é isso, até os contratos de locação vencerem. Até lá estarei preparada para novas observações. Que venham os novos vizinhos e mais um post para o meu blog!

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